Sonho

Um sonho pulsa na palma da sua mão. Uma luz brilhante, leve, doce.
Na quietude da noite, ela sente o seu calor fluir para dentro de si. É um bálsamo para a sua alma entorpecida.
Todas as noites, com o sonho na palma da sua mão, ela acrescenta-lhe uma cor, um cheiro, um toque. Um sabor, uma nota. Enriquecendo-o, nutrindo-o.
No seu sonho, a sua vida é colorida, perfumada, quente. É picante, tem melodia.
É um sonho tão rico em pormenores, tão vívido, que ela quase se sente a vivê-lo. Há algo que ela desconhece que a puxa para o centro daquela luz, uma espécie de íman. Um halo de energia envolve o seu sonho, uma magia misteriosa que a encanta, que chama por ela. Uma voz que sussurra tentadora, sedutora.
O contraste entre o seu sonho e a sua própria vida é ensurdecedor, berrante.
Ela vive uma existência cinzenta, insípida, silenciosa, fria. Por causa do medo.
Um medo que pulsa na palma da outra mão. Pesado, preto, pegajoso.
Medo do desconhecido, medo da imensidão que é a liberdade. Medo de se libertar das amarras que a mantêm presa nessa existência. Ela é um pássaro solitário confinado a canto escuro do seu ninho por medo de abrir as suas asas e voar, livre.
Ela olha para o seu sonho e um murmúrio tímido surge-lhe nos lábios. Uma prece.
Ah, mas a fé! Como ela queria ter essa fé!
Ter fé nos sonhos, ter fé na vida. Ter fé nela própria.
Como seria a sua vida se tivesse fé?
Quem seria ela se tivesse fé?